O governo brasileiro reagiu duramente à carta em que o representante de Comércio dos Estados Unidos, Ron Kirk, criticou a política do País de elevação de tarifas de importação. O ministro das Relações Exteriores, Antônio de Aguiar Patriota, recebeu o documento nesta quinta-feira (20) à tarde e à noite divulgou uma resposta.
O tom do texto de Kirk, que tem o posto equivalente a um ministro do Comércio Exterior, incomodou o governo brasileiro. Há uma semana, o embaixador americano na Organização Mundial do Comércio, Michael Punke, também havia reclamado da decisão brasileira de aumentar as tarifas de importação de 100 produtos e a reação de Patriota não foi tão dura.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro afirmou que considerava naturais as críticas feitas na organização, um fórum onde os países podem levantar suas "preocupações comerciais". Ainda assim, lembrou que o Brasil é um dos quatro países que mais importam produtos americanos e que medidas dos Estados Unidos benéficas às suas empresas, como o chamado afrouxamento quantitativo realizado há uma semana, também prejudicam economias emergentes.
A diferença agora é, especialmente, o tom da carta do representante americano. No texto, Kirk não só começa dizendo que escreve para declarar "em termos fortes e claros" a preocupação dos Estados Unidos com a política brasileira, como acusa o governo brasileiro de tomar medidas protecionistas e de mirar especificamente as importações americanas. Além disso, o tom de ameaça - Kirk diz que medidas como essa podem levar a respostas à altura e prejudicar as relações dos dois países - foi considerado desrespeitoso.
O Brasil teve, em 2011, um déficit comercial de US$ 8,2 bilhões com os Estados Unidos. Este ano, entre janeiro e agosto, a diferença na balança comercial já alcança US$ 2,7 bilhões contra o Brasil. Além disso, as ações americanas para proteger seu comércio também não costumam levar em conta os problemas que causam nos outros países.
A recente decisão do Federal Reserve, o banco central americano, de comprar US$ 40 bilhões em títulos públicos para injetar dinheiro na economia foi classificada pela presidente Dilma Rousseff como um "tsunami monetário", que fortalece artificialmente as moedas dos demais países e prejudica o comércio. No quesito subsídios, o Congresso americano negocia uma nova lei agrícola, a Farm Bill, que pode ser ainda mais danosa para os produtos agrícolas que a atual.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo