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sábado, 26 de abril de 2014

Morre coronel que participou de vários crimes na época da ditadura e leva com ele uma parte podre da história desse país

O coronel da reserva Paulo Malhães, encontrado morto nesta sexta-feira (25) em seu sítio em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ficou conhecido em março deste ano após reconhecer em depoimentos à Comissão da Verdade que havia participado de sessões de tortura e de desaparecimentos durante a ditadura militar. Malhães, que tinha 76 anos, coordenou o Centro de Informações do Exército no Rio de Janeiro (CIE) durante a ditadura militar.

Ele também confessou ter participado do desaparecimento de diversos corpos no período, inclusive o do ex-deputado Rubens Paiva, torturado e morto em 1971. Sobre Rubens Paiva, o coronel entrou em contradição e, após ter afirmado que conhecia o paradeiro do corpo, voltou atrás e negou ter ocultado o cadáver do parlamentar.
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O militar prestou dois depoimentos, um à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, no último dia 21 de março, e outro na Comissão Nacional da Verdade, realizado em audiência gravada no dia 25 de março. No segundo depoimento, ele deu detalhes sobre como os corpos dos presos eram mutilados para que não pudessem ser identificados.

Os crimes ocorreram na chamada “Casa da Morte”, considerada uma espécie de centro dclandestino e tortura localizado em Petrópolis, no Rio, e que funcionou entre 1971 e 1978. Com ajuda de uma sobrevivente, os integrantes da Comissão da Verdade conseguiram fazer a planta do local, com descrição dos imóveis.

Primeiro depoimento
Em 21 de março, o coronel revelou que o corpo de Rubens Paiva havia sido jogado em um rio de Itaipava, na Região Serrana do Rio. As revelações foram feitas por ele à advogada Nadine Borges e ao jornalista Marcelo Auler, da Comissão da Verdade no Rio, durante 20 horas de conversas na casa onde ele morava, na Baixada Fluminense.

No depoimento, cujo texto foi divulgado pelo jornal "O Globo", o coronel teria falado que Rubens Paiva morreu "por erro".

“Naquela época não existia DNA, concorda comigo? Então, quando o senhor vai se desfazer de um corpo, quais são as partes que, se acharem o corpo, podem determinar quem é a pessoa? Arcada dentária e digitais, só. Quebravam os dentes e cortavam os dedos. As mãos, não. E aí, se desfazia do corpo”, teria dito ele no depoimento.

Segundo a Comissão da Verdade, o coronel disse que a "Casa da Morte era um laboratório e servia de modelo para centros idênticos em nove estados – RS, SC, PR, SP, BA, PE, CE, PA, MA.
Em entrevista ao jornal O Globo em 2012, o coronel havia passado uma versão diferente: disse que os restos mortais de Rubens Paiva foram enterrados numa praia e, mais tarde, desenterrados e jogados no mar. Na ocasião, ele informou ter sido o responsável pelo desaparecimento após receber ordem para isso.
Segundo depoimento
Já no segundo depoimento, dado à Comissão da verdade Nacional no dia 25 de março, ele negou ter participado do desaparecimento de Rubens Paiva. Ele foi ouvido por três horas. Na sessão, deveriam ter sido outros dois oficiais que participaram das ações na época, e que não compareceram.

“Eu só disse que tinha sido eu (que desapareci com o corpo de Rubens Paiva) porque é uma história muito triste quando uma família leva 38 anos para saber o paradeiro. Eu não sou sentimental, não. Mas tenho as minhas crises”, justificou ele na ocasião.

No mesmo dia, disse que não tinha certeza mais se o corpo desenterrado de uma praia e jogado em um rio era mesmo de Rubens Paiva.

"Tinha uma massa morte enterrada, desenterrada", disse. "Nem sei se aquela massa era realmente dele".

Ele negou arrependimentos e também disse que não lembrava quantas pessoas havia matado. “Eu acho que eu cumpri com o meu dever”, afirmou.
Fonte: Jornal O Globo

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