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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Resgate do mercado acionário da China poderá ter um preço

PEQUIM - A agressiva resposta da China à forte retração dos preços das ações enfraquece a promessa de ter um mercado acionário que desempenhe um papel decisivo na economia e gera o risco de que osINVESTIDORES acreditem que Pequim irá sempre socorrê-los.

Ao longo do tenso fim de semana, o governo avaliou várias medidas para conter o frenesi de venda que fizeram o índice Shanghai Composite desabar 29% em três semanas. Corretoras, gestores de fundos deINVESTIMENTO e um braço de investimento do governo comprometeram-se a comprar ações, novas ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla em inglês) foram suspensas, as cotas de ações estrangeiros aumentaram e o banco central prometeu fornecer liquidez para ajudar os investidores  a pedir dinheiro emprestado para comprar ações.
As medidas podem conter o pânico no curto prazo, mas alguns economistas alertaram que podem encorajar outra bolha de ativos se não forem implementadas com cuidado.
O índice Shanghai Composite abriu em alta de 7,8% nesta segunda-feira e parecia que o movimento do governo iria definitivamente impulsionar o mercado. Mas o índice rapidamente deixou os ganhos para trás, e após operar no negativo, encerrou o dia em alta de 2,4%.
Investidores e analistas disseram que a pesada compra das principais blue chips, como bancos estatais e empresas de energia, no final do pregão parecia ter sido trabalho de fundos apoiados pelo Estado.
Alguns economistas dizem que os líderes chineses podem ter exagerado, já que o risco sistêmico na China a partir da recente queda das ações é baixo e está distante dos eventos que desencadearam a crise financeira global de 2008 e levaram o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a agir.
"Eles provavelmente entraram em pânico", disse o economista Klaus Baader, do Société Générale. "Um mercado em que as autoridades intervêm é muito perigoso. Se o mercado quer corrigir e você [o governo] influencia as operações, isso gera instabilidade."
A Bolsa de Xangai ainda está 50% acima do patamar do início do rali e acumula 14% de ganho neste ano. OsINVESTIDORES doMERCADO DE AÇÕES são um pequeno segmento da sociedade chinesa. Os bancos, ao menos no papel, não estão extremamente expostos. E muitos dos que detêm grandes posições apresentam alto patrimônio líquido, dizem os economistas, tornando um colapso nos gastos dos consumidores improvável.
OsMERCADOS DE AÇÕES que funcionam bem são fomentados com políticas que fortalecem a arquitetura Financiera e econômica, não com aqueles que interferem nos preços, dizem alguns economistas.
O economista Dongming Xie, do OCBC Bank, disse que a China precisa primeiro fortalecer sua supervisão sobre a compra de ações com dinheiro emprestado (margin financing), especialmente naqueles negócios fora do controle regulatório. "Então ela precisa fortalecer o crescimento econômico, a fundação de um mercado saudável de ações."
A dramática tentativa chinesa de colocar um piso no movimento de quedas pode ter sido moldado por um desejo de, após encorajar o mercado a se valorizar, parecer no firme controle da economia, avaliaram alguns especialistas.
"Muitos dizem que isso é um risco sistêmico", disse o estrategista-chefe da Industrial Securities, Zhang Yidong. "Eu acredito que é mais um risco político. As principais autoridades estão temendo que uma forte queda possa levar a distúrbios sociais."
A forte queda nas ações também ameaçou a busca da China por um tipo de mercado bem capitalizado, que pode permitir que companhias estatais em dificuldades troquem dívida por ações.
Muito dos fundos estatais levados ao mercado podem acabar expandindo a presença do governo, já que muito das compras deve estar indo para ações de companhias estatais, diante de seus índices baixos de preço por ação e de sua reputação como internacionais estáveis. E a ação do Banco Central da China de ajudar indiretamente investidores a emprestar para comprar ações poderia piorar o risco dos empréstimos para comprar ações que as autoridades haviam tentado conter, segundo economistas.
O estudante Henry Luo, de 24 anos, um novo investidor de Hunan, disse que se sentiu encorajado pelas medidas de apoio do governo. "Os mercados continuaram caindo porque perderam a confiança", afirmou ele. "Eu vou vender se puder recuperar meu dinheiro. Caso contrário vou deixar no mercado como um internacionais de longo prazo."
Entre as opções ao dispor de Pequim nas próximas semanas, caso os mercados continuem caindo, está direcionar as companhias estatais para comprar mais de suas próprias ações e direcionar mais fundos do BC para a compra de ações, dizem economistas. Também é possível um novo corte na taxa de juros e a redução do compulsório dos bancos, após o duplo corte do mês passado.
Como parte das medidas para o fortalecimento da confiança, unidades de gestão de ativos de empresas líderes do setor comprometeram-se a manter suas ações até que o índice Xangai Composite alcance 4.500 pontos, bem acima do fechamento da segunda-feira, em 3.775,90 pontos. Alguns leem isso como uma meta não oficial do governo, mostrando preocupação. "Nesse nível, as valorizações estarão relativamente exageradas novamente", disse o economista Dariusz Kowalczyk, do Crédit Agricole CIB. "Esse é o problema com impor um alvo. Os investidores vão vê-lo como um bom nível para vender."
O esforço de Pequim para tornar seus mercados mais atrativos para os  investidores internacionais e posicionar o yuan como uma moeda internacional também pode ter sofrido um revés neste fim de semana, dizem alguns. "Eles precisam ter um mercado razoavelmente transparente, que trabalhe com as regras que a maioria dos mercados trabalha, não sujeito à intervenção das políticas de mercado", afirmou Baader, do Société Générale. "Isso destrói a confiança no mercado e tem um impacto duradouro na atração do capital internacional. Isso não vai tornar bem-visto o mercado para investidores globais."
Estadão Conteúdo

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