Para Otaviano Canuto, o rebaixamento da nota do Brasil pela Standard & Poor's não significa que "tenhamos pulado em algum precipício".
A perda do grau deINVESTIMENTO pode servir inclusive como catalisadora em um momento no qual as instituições brasileiras estão sendo testadas: "não dá para esperar, não dá para fingir que não está acontecendo".
Canuto já foi secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, professor da Unicamp e vice-presidente e assessor sênior para economias emergentes do Banco Mundial, onde ficou mais de 10 anos.
Seu nome chegou a ser cotado para a Fazenda pós-Mantega, assim como para a presidência do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Desde maio, ele é diretor-executivo para o Brasil no FMI (Fundo Monetário Internacional).
No Brasil para participar de um Congresso de Economia, Canuto conversou com EXAME.com nesta quinta-feira sobre o impasse fiscal, política comercial e o risco de perda das conquistas sociais. Veja a entrevista:
EXAME.com – Quais são as consequências da perda do grau deINVESTIMENTO para o país?
Otaviano Canuto – É perda por uma agência: não é automático que as outras duas sigam. A Moody’s soltou nota confirmando seu patamar. Mas tem um efeito no conjunto de riscos a serem considerados porINVESTIDORES em qualquer área, assim como um efeito secundário que é uma piora para todas as empresas brasileiras cujo rating depende do soberano. Isso já aconteceu com a Petrobras.
É bom explicar do que estamos falando: rating soberano. Não há nenhuma avaliação do país, se é bom ou melhor; é uma leitura da probabilidade de um evento com os títulos da dívida.
Agora, é fundamental que não haja um segundo rebaixamento, porque alguns tipos de investidores institucionais são obrigados a reter em carteira apenas papeis que tenham grau deINVESTIMENTO por pelo menos duas grandes agências.
Entre agora e o momento de revisão pelas outras agências, muita coisa pode acontecer. O rebaixamento pode servir como catalisador, deixando para trás definitivamente dúvidas quanto ao compromisso do governo de conseguir um superávit primário positivo em 2016 ao invés do déficit que estava projetado. E também empurrar algumas lideranças do Congresso e do próprio governo a cooperar e fazer o que deve ser feito para melhorar o cenário fiscal.
Não há nada automático: não é uma boa notícia, mas também não quer dizer que tenhamos pulado em algum precipício.
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